O Manifesto Antimaternalista e a Reavaliação da Maternidade

A pressão para se conformar a esse ideal de maternidade "perfeita" pode ser extenuante e prejudicial à saúde mental das mulheres. 

É importante reconhecer as críticas ao modelo tradicional de maternidade. O livro “O manifesto antimaternalista: psicanálise e políticas da reprodução” (2023), da psicóloga e psicanalista Vera Iaconelli, questiona a ideia de que a maternidade é a única forma de realização da mulher e oferece uma perspectiva crucial para repensar o papel da mulher na sociedade. 

Ao desafiar essas normas, muitas mulheres conseguem encontrar uma maior liberdade e autonomia, permitindo-se buscar satisfação e equilíbrio em suas escolhas de vida, sem a imposição de um modelo único de feminilidade.

A análise do papel das mulheres na sociedade e as dinâmicas sociais que moldam sua vida, especialmente na maternidade, são essenciais para compreendermos os desafios que enfrentam, incluindo as implicações para sua saúde mental. A experiência materna é frequentemente idealizada, mas essa expectativa muitas vezes não corresponde à realidade vivida pelas mulheres, resultando em impactos significativos no seu bem-estar psicológico.

Provavelmente você conhece alguém que já viveu uma perda gestacional, seja no início da gestacional ou logo após o parto e disse pra essa pessoa: “logo você engravida outra vez”. Não saber o que dizer, o que fazer, é legítimo. Afinal, esse assunto sempre foi tabu na nossa sociedade.

Ao falar sobre o tema, damos espaço para as famílias vivenciarem esta experiência tão dolorosa, além de desenvolvermos um olhar compassivo para com as mesmas, validando seus sentimentos. 

Parir é uma experiência singular, totalmente transformadora na vida de uma mulher. Como tal, esse momento é carregado de expectativas, inseguranças e emoções e a forma como a mulher vivencia o parto pode influenciar significativamente a saúde mental da mãe no período pós-parto, tendo um papel crucial no desenvolvimento da depressão perinatal.

Dessa forma, uma experiência de parto positiva, com um suporte adequado, respeito à mulher, com manejo de dor e acolhimento, pode atuar como fator de proteção contra a depressão. Por outro lado, experiências traumáticas ou insatisfatórias durante o parto podem elevar o risco de desenvolvimento dessa condição. Temos alguns estudos que apontam que o estado emocional da mãe imediatamente após o parto é um preditivo de depressão perinatal, enfatizando a importância de um ambiente seguro e acolhedor nesse momento.

Quando falamos em maternidade, os grupos terapêuticos representam um espaço seguro e acolhedor, onde mulheres que compartilham a experiência da maternidade podem se conectar, trocar vivências e receber apoio emocional. Esses grupos se tornam um refúgio em meio aos desafios e transformações que a maternidade nos convoca a vivenciar.

Grupo terapêutico é uma modalidade de tratamento psicológico que reúne pessoas com questões emocionais ou comportamentais semelhantes. Através da interação e do apoio mútuo, os participantes podem compartilhar experiências, aprender novas formas de lidar com seus problemas e promover mudanças positivas em suas vidas.

Para ser caracterizado como tal, os participantes do grupo devem possuir um objetivo comum, como superar a ansiedade, lidar com o luto ou melhorar seus relacionamentos. É necessário que um profissional da psicologia conduza o grupo, facilitando a comunicação e garantindo um ambiente seguro e acolhedor. Interação e apoio são fundamentais, fazendo com que o grupo ofereça oportunidades para aprender novas habilidades, desenvolver a autoconsciência e promover mudanças positivas.

“É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança” é um provérbio africano que significa que a educação de uma criança é uma responsabilidade coletiva. 

A rede de apoio na maternidade é um conjunto de pessoas, grupos ou instituições que oferecem suporte emocional, prático e informativo ao casal durante a gestação, o parto e fundamentalmente no pós-parto. Essa rede é fundamental para garantir o bem-estar da mãe e do bebê, além de facilitar a transição para a maternidade.

O ditado popular ser mãe é padecer no paraíso encapsula a complexidade e a dualidade da experiência materna. Ele reconhece que a maternidade, embora repleta de alegrias e momentos indescritíveis, também envolve sacrifícios, desafios e até mesmo dor.

A romantização da maternidade idealiza a experiência de ser mãe, apresentando-a como um estado de plenitude emocional, constante felicidade. Este fenômeno social cria expectativas irreais e prejudica a saúde mental das mulheres.

Para mudar o mundo é preciso, primeiro, mudar a forma de nascer. A frase do médico francês Michel Odent, obstetra reconhecido por difundir a abordagem pró-parto natural, nos traz reflexões sobre as formas de nascer no Brasil, além de como podemos melhorar a assistência a gestante no nosso país.

Uma ferramenta ainda pouco difundida mas extremamente útil para a prevenção de transtornos psicológicos é o pré natal psicológico (PNP).